terça-feira, julho 12, 2005

"...e assim viveram felizes para sempre"

Essa era a frase que Dani - com cinco anos - e sua gata Filó sempre escutava do seu pai quando terminava de contar estórias para dormir. Dizia que escutaria essa frase quando ela, a gata Filó e seu pai - o seu único amor - estivessem bem velhinhos. Os dois sentados em uma cadeira de balanço de mãos dadas e a gata brincando com o novelo de lã azul. Para ela, seu pai nunca a abandonaria. Ele era o único homem que podia pegar em sua mão, abraçar e dar beijinhos no rosto. Dani não queria saber dos meninos da sua idade, eles eram infantis e mau educados - dizia baixinho no ouvido do seu pai quando a buscava na escolinha.

As estações passaram.

Dani percebeu que aquele amor, era amor de filha para pai, o amor que seria o seu porto seguro. As paixões por meninos da sua idade ou um pouco mais velhos foram acontecendo. Tudo era desculpa para ficar por perto: música lenta, conversas ao telefone, no portão, bilhetinhos. Paixões da adolescência. Entrou para a faculdade. Descobriu o amor: o calor no corpo, as mãos frias, tremedeiras, palavras engasgadas. Nunca tinha sentindo por nenhum menino o que sentia pelo Bruno. Casou no sítio em um caminho de pétalas de rosas. Mais algumas estações e conheceu o outro significado da palavra amor: o de ser mãe. E, não esquecendo da gata, essa já era a tataraneta da Filó: Filozita.

Chegou o frio. Dias cinzas, como avisou o mocinho do tempo.

E o vento levou embora o seu mais completo amor. E foi assim, aos 35 anos, conheceu o outro lado: o da dor, o da perda. Dani perdia seu pai. Sabia que esse dia chegaria, mas nunca teve a coragem de se preparar para ele. Mesmo vendo a velhice o derrotando, não conseguia pensar na morte do homem da sua vida. Ela sabia que a frase não seria para os dois. Mas, pelo menos, no início do inverno, sentou junto ao seu pai na cadeira de balanço, e com um abraço e com um beijo, selaram o amor eterno.

Depois do tenebroso inverno, a primavera. Sentada na varanda do sítio, onde se casou, com o chapéu na mão, em frente ao jardim de rosas brancas, Dani foi coberta por beijos e afagos e uma mão pequena lhe deixou um livro. A estória da sua família: Bruno e seus três filhos. Além de frases contando até o agora, fotos do casamento, das pequenas crianças, da família da Filo, faziam parte do livro de capa dura. Com a emoção nos olhos ela leu a última frase do livro: "... e assim viveram felizes para sempre".

Dani ainda com os olhos chorosos, voltou ao jardim de rosas brancas e no meio plantou quatro rosas vermelhas, para ela, as rosas mais belas, mais insubstituíveis, mais amadas do seu grande jardim.

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