quarta-feira, agosto 17, 2005

Um homem usando um terno branco passou em frente à casa, assoviando uma canção: “Parece com um samba cordão que tocava nos bailes de carnaval em Ubá”, dizia a minha avó. Foi para a janela na expectativa de ver um rosto que morava em seu peito. Mãos suando, coração controlado pediu para a neta convidar o belo moço a tomar um café e comer pão de queijo. Sem entender, o porque do convite, a neta o chamou. Mas a avó sabia: rosto jovem, lembranças da sua primeira paixão - baile de máscaras, era o começo do carnaval.

Foi para a varanda, sentou em sua cadeira de balanço e no colo um álbum antigo nas mãos. Em gestos apontou para a pintura desgastada onde um homem segurava uma flor, o tempo não apagou o olhar de esperança: o homem esperava por alguém.
“Sim, Dona Ruth, eu sou filho do Adjalme, o homem da foto, vim até aqui por pedido do meu pai, ele antes de partir, queria lhe entregar isto", respondeu o moço ao gesto de Dona Ruth.

Os olhos da boa velhinha brilharam e chorou: a última vez em que o viu, foi na ferroviária, ela dentro do trem - ordens do pai, encaminhá-la para a capital - ele na praça da estação. Dona Ruth nem pode dizer adeus. Somente a lembrança em uma folha de papel. Desenho do olhar do homem que espera a sua amada. Olhar ansioso, olhar esperançoso, olhar de lembranças.
A neta, emocionada, lembra da história que a avó lhe contou. Um amor interrompido, só porque ela tinha mais e ele menos. Não podia desacatar as ordens do pai, então, foi calada e direto para a capital.
Agora, a neta vê a rosa. Vê a rosa nas mãos da Dona Ruth. A rosa que Seu Adjalme nunca deixou de amar.

A primeira de muitas flores que ele queria dar a ela. A primeira flor que ganhou em toda a sua vida. A primeira flor que continua vermelha, linda em uma jarra de cristal em cima do móvel que fica ao lado da sua cama. A primeira flor que tem o cheiro de amor eterno. Um amor que tinha coração para amarem outros. Amor que respeitou esses outros amores, mas nunca foi esquecido. Lembranças de um amor que começou no carnaval. Uma rosa e uma pintura.

Ao deitar, Dona Ruth olhava para a rosa e chorou de felicidade, uma felicidade que ela não sentia há muito tempo e um dia rezou. Lembrou do homem de terno branco e logo olhou para o céu e viu uma estrela brilhar: “Sabia, tinha certeza, anjos existem”.

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