quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Amélia saiu do barracão com o brilho nos olhos, um sorriso largo na boca e se sentindo nas nuvens. Chegou em casa e contou para a mãe como era a sua fantasia, a primeira, feita especialmente para a sua estréia no Sambódromo. Seis anos, Amélia tinha apenas seis anos e com um vestido rodado, de bordado com linhas brilhantes, sapatilhas e mais alguns badulaques na cabeça, Amélia não parava de falar da fantasia e aproveitava e mostrava os passos que ficou ensaiando para desfilar na avenida. Sonho da sua avó, Dona Clementina, uma das vovós mais famosas da ala das baianas, de bengala na mão ainda mostrava todo o gingado de uma sambista apaixonada pela avenida. Ela sempre disse que não ia perder o dia em que sua primeira neta entrasse sambando na avenida, não deixando assim, uma tradição de anos acabar. Antes de pegarem o caminho para a Sapucaí, Dona Clementina levou a neta para ver o mar. Lá jogaram rosas brancas bem cheirosas para Iemanjá pedindo a sua proteção. Mais tarde, estava Amélia de seis anos, toda linda e cheia de purpurina, na avenida, comissão de frente da escola verde e rosa. Ela e mais cinco crianças misturavam passos de balé com o velho e bom samba. Viu sua mãe, mas não podia dar um tchau, então abriu ainda mais o sorriso e no meio da coreografia arranjou um jeito de baixar a cabeça, como um gesto de agradecimento. A mãe vendo aquilo, orgulhosa disse para o vento com o propósito de chegar aos ouvidos de Amélia: - A bailarina dos olhos de jabuticaba é minha filha! Te amo minha preta! E foram dançando pela Sapucaí, neta e avó, deixando os rastros de suor de uma vida dedicada ao samba e a emoção da raiz nova que continuará a proteger o samba e guardando sempre no coração.

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