quarta-feira, junho 29, 2005

Uma moça passava em frente a minha janela, estava usando sapatos vermelhos que combinavam com a fita vermelha amarrada em seu cabelo, nas mãos segurava uma cesta e sei que dentro haviam flores, pois, as pétalas coloridas estavam dando o ar da graça, naquela manhã. Minha filha, por debaixo das minhas pernas, também, observava a moça e percebendo a cesta e as cores vermelhas, correu para a porta, tentando alcançar a maçaneta. Assustada, dei um grito e perguntei para onde ela pensava que estava indo. Ela respondeu: “Mamãe, tenho que avisar para a moça dos sapatos vermelhos que ela não pode ir pela floresta, é muito perigoso, e você sabe o motivo”. E falou baixinho o motivo.
Tranquei a porta, coloquei Maria, no puf enorme amarelo, perto do ursinho Bimbo. Fui até seu quarto e guardei o livro de capa dura e vermelha: “Acho que estou lendo demais, para Maria, a estória de Chapeuzinho Vermelho”.

terça-feira, junho 28, 2005

Texto antigo, mas combina com o que passei no Domingo

Amanheceu, Camila, prepara o café, vai até a varanda, senta na rede e olha para o céu azul com um sol que começava a iluminar cada ponto da cidade. Sentiu sua energia, o seu calor na ponta de seus pés, resultando em um grito silencioso e um agradecimento por trabalhar e viver daquilo que mais gosta: O TEATRO.
Ao lembrar da grande estréia, pegou uns textos que estavam jogados em cima da mesa, que fica ao lado da rede. Começou a ler, só mais uma vez, antes de tomar banho e se arrumar para a grande noite. De repente, fechou os olhos e lembrou de tudo o que passou para chegar onde estava. Chorou, pois, iria começar a realizar um sonho antigo, um sonho querido, um sonho eterno.
Ao abrir os olhos, percebeu que o tempo não parou junto com ela, então, soltou os textos na rede, correu para o banheiro, ligou o chuveiro e tomou um banho de cinco minutos, pois ainda, tinha que arrumar a mochila. Fez uma lista, onde numerou os objetos que não poderia esquecer de jeito nenhum: o salto alto da mãe, maquilagem, toalha, bolsinha onde guarda as coisinhas de banho, escova de cabelo, escova de dente e uma roupa.Tudo pronto, só tinha um detalhe, estava esquecendo de almoçar. Foi até a cozinha e preparou uma comida bem leve, assim, não ia se preocupar com uma indigestão durante a apresentação. Comida no papinho pé no caminho.
O sol ainda iluminava à tarde que estava chegando. Ao chegar no teatro, o frio na barriga começou, assustada, diz para ela mesma: “Calma, barriguinha, ainda faltam seis horas para você aparecer definitivamente”. Abriu as portas do teatro, pelo visto, é a primeira, até que gostou disso, porque, sentou no palco e ficou olhando o espaço do lugar e imaginou as setecentas pessoas aplaudindo o espetáculo.
Ensaio geral, a diretora já tinha fumado um maço de cigarros e já estava rouca de tanto gritar: “Olha o foco; atenção, por favor; se esquecerem o texto, não fiquem nervosos, improvisa, o público não tem idéia de como é o espetáculo” No final, ficaram orgulhosos, pois, perceberam que nesses seis meses, todos os sábados, com seis horas de ensaio fizeram um último ensaio maravilhoso.
Como não eram de ferro, fizeram um lanche antes da estréia, hora para relaxar, contar piada, lembrar do início dos ensaios, daqueles que não agüentaram o pique e nunca mais apareceram nas aulas, dos micos, das escolhas dos personagens, dos joelhos roxos, das vozes rocas, e por aí vai.
Já era noite, os ponteiros do relógio avisavam que já estava quase na hora de começar a peça. A diretora pede para eles subirem para o palco. Chegando lá eles formam uma roda e dão as mãos e fazem uma oração, depois cada um se espalhou pelo palco. Camila sentou no centro, abaixou a cabeça e fez exercícios para a voz. Sentiu o frio na barriga, não reclamou, para ela, nesse momento, acabou sendo uma sensação gostosa, porque sabia que esse friozinho iria passar quando colocasse o seu pé no palco e fizesse sua primeira encenação.
Segundo sinal, Camila levantou e foi abraçando e desejando “merda” a cada um - uma expressão utilizada no teatro para dizer, boa sorte ou bom espetáculo – e vai se posicionando para o lugar marcado. Terceiro sinal, a cortina vai se abrindo, um silêncio toma conta do teatro. Uma luz se acende no meio do palco e é dita a primeira frase do espetáculo, anunciando a sua apresentação. Ao entrar em cena, o frio na barriga que Camila estava sentido dá lugar a uma tranqüilidade e essa tranqulidade a fez prestar atenção na história que estava sendo contada, nos outros personagens e a incorporar a sua personagem. A excitação é geral. Na coxia, uns correm para se posicionar no lugar em que vão entrar no palco, outros ajudam seus colegas a se vestirem, e poucos colocam os objetos no lugar que vão ser utilizados na próxima cena. Cada um compenetrado em seu trabalho, esperando a recompensa no final da encenação: OS APLAUSOS. Uma hora de espetáculo e tudo aquilo que Camila imaginou durante o dia aconteceu. O seu sonho se concretizou, estava fazendo teatro, estava em cima de um palco, com casa cheia. O resultado que todos queriam também aconteceu: foram aplaudidos de pé, com gritos frenéticos, “muito bem”, “bravo, bravíssimo”.
Homenagearam a diretora com um buquê de rosas e um vinho, ela em nome de todos, agradeceu a presença e pediu para quem gostou avisasse aos amigos e para quem não gostou avisasse aos inimigos. Mais aplauso, cortina se fecha e podiam escutar vozes familiares dizendo frases carinhosas sobre a peça e os seus interpretes.
Depois de um banho, Camila subiu para o teatro e, mais uma vez, foi recebida com aplausos da família e amigos. Todos queriam abraça-la e dizer como ela estava linda, como ela representa bem, quando ela ia fazer uma novela. Ela não conseguia dizer uma palavra, porque estava fora de si de tanta felicidade. Só sabia rir, dar umas boas gargalhadas.
Chegando em casa, não conseguiu colocar a chave na fechadura, resultado da mistura de vinho, cerveja e champanha, na comemoração do início de uma temporada de sucesso, em um restaurante ao lado do teatro.
Deitou na cama de roupa e só conseguiu tirar os sapatos, antes de cair no sono disse para o seu travesseiro: “Amanhã não possso terrrrrrr resssssssaaca, amanhã faço tudo de novo”.